20 de mai. de 2007

Curiosidades "Meu cachorro Inesquecivel" Revista seleções

Meu Cachorro Inesquecivel.
Por Albert Payson Terhune

Sunnybank Bobby era um enorme cão pastor da Escócia, um (coolie) de pelo fulvo e malhas brancas, filho de meu famoso Bruce. Morreu há 17 anos. Lembro-me dele bem melhor, no entanto, do que de muitos homens e mulheres desde então faleceram. Não tinha mais que cinco meses quando o escolhi, numa ninhada de oito, para servi-me a um tempo de cão de guarda e companheiro.
Bobby era desses raros cães que se habituam facilmente aa rotina da casa, e aos quais basta se dar, uma vez, determinada ordem, para que nunca mais a esqueçam.
Logo no primeiro dia, mostrei - me onde lhe era permitido deitar – se na sala de jantar e no salão.Nunca mais se deitou noutros lugares.
Foi sem dúvida o mais inteligente, entre quantos cães conheci. Suas próprias façanhas enchiam-no de orgulho.
Ensinei-o, em pequeno, a subir as escadas que levam ao segundo andar.
Pareceu-lhe aquilo tamanha proeza que, quando tínhamos visitas, Bobby corria, sem parar, escada abaixo, escada acima, mostrando aos convidados do que era capaz. E assim no tocante a tudo o que ia, aos pouco, aprendendo.
Ao despertar, todos os dias, lá eu dava com bobby, sentado junto à cama, em silenciosa expectativa. Mal eu abria os olhos, ficava louco de alegria, e punha-se a dançar por todo o quarto, durante dois ou três minutos, acompanhando aquilo com latidos agudos de prazer.
Mas, terminada a cena, mergulhava de novo num profundo silêncio, para o resto do dia.
Seguiu-me Bobby, certa feita, a um dos quartos da casa-que ficava no andar de cima, e que em geral conservávamos fechado-onde eu fora buscar algumas cartas velhas.Apontando para umas das cadeiras, ordenei-lhe que se deitasse nela. Só dois anos mais tarde, teve ele ocasião de ali voltar comigo.Sem fazer um só gesto, eu lhe disse, da porta, que visse bem qual era a sua, dentre as quatro cadeiras, e se fosse deitar nela. Bobby estacou, por um momento apenas, olhando, ansioso, indeciso.Mas lembrou-se sem demora, e foi ter à cadeira que eu lhe designara na outra visita.
Depois do nosso primeiro passeio pela estrada, já nem me foi mais preciso chamá-lo para que, ao se aproximar um carro, ele viesse, correndo, ao meu encontro, e me seguisse lentamente os passos, até que o monstro desaparecesse.
Quando tinha dez meses, aconteceu, porem, que um carro, descendo a toda pressa a rua, lhe quebrou a perna esquerda em dois lugares. Bobby arrastou-se, coxeando, ao meu encontro, certo que parecia estar de que eu resolveria aquilo facilmente. Após umas semanas no aparelho de gesso, e, mais tarde, entre talas, a perna ficou boa como dantes. Mas fosse lá por que motivo fosse, Bobby continuava a coxear, recusando-se a usar aquela perna. Devia, no entretanto, aparecer pela primeira vez num consurso de cães, 48horas depois. Coxo, seria desqualificado.
Era mister agir depressa e resolvi, por isso, prender-lhe a perna direita da frente numa atadura que exercesse forte pressão sobre a mesma. Durante algumas horas, bobby tentou pular à maneira dos cangurus, usando as patas de traz. Depois, como tentasse proteger a perna que eu prendera na atadura, pôs a esquerda no chão, e descobriu que se podia servir dela.
Entrou na pista do concurso, andando sobre as quatro pata, e recebeu duas fitas e uma taça.
Tinha o faro aguçado de verdadeiro cão de caça. Sem a mais leve hesitação seguia-me tranquilamente o rasto por estradas e ruas de intenso movimento.
Só uma vez lhe não foi possível alcançar-me no meio do caminho.Aconteceu que, aquele dia, bobby só conseguiu sair de casa quando eu já estava a terminar o meu passeio habitual da tarde.
Mas deu com o rasto, e lá seguiu por ele. Chegou em casa, dois minutos depois de mim, segurando entre os dentes uma cigarreira de couro que me caira do bolso.
Tive, então, a infeliz idéia de ensinalo a partir, de manhã cedo, em busca dos jornais que o jornaleiro costumava colocar na cancela da casa. Tomou-se Bobby de tamanho orgulho quando, ao ser desincumbido pela primeira vez dessa nova missão, eu me pus a cobri-lo de elogios, que ao despertar na manh~seguinte, encontrei não um mas vinte e três jornais! Seguindo o rastro do entregador de jornais Bobby colecionou jornais, de porta em porta, num percurso de quase um quilômetro.passei horas amargas a dobrá-los de novo e devolvê-los aos vizinhos irritados.
Minha mulher fez-lhe uma vez, também, mil elogios, porque ele lhe trouxera um lencinho de renda que ela avia perdido no caminho. Até que eu proibisse tais presentes, passou Bobby a lhe trazer, amavelmente o que quer que encontrasse pela estrada: a manivela de um carro, uma sombrinha chinesa, e, finalmente uma galinha morta.
Bobby tinha a mania de proteger-me contra todos os perigos. Quando me viu, pela primeira vez, mergulhar de um trampilim, atirou-se no lago e me arrastou para a terra. Deixei-me rebocar, resignadamente, afim de que ele não julgasse que isto de salvar vidas figurava entre as coisas proibidas. Apenas, desde então, quando eu ia nadar, tratava de deixá-lo preso em casa.
O formoso ( collie) de pelo fulvo possuía, alem do mais, certos dons psíquicos. Na sala de jantar, durante as refeições, lá ficava deitado no seu canto, olhos postos em mim. Mas se eu tomava, por acaso, bebida, por volta do segundo ou do terceiro copo, bobby se levantava, calmamente, e saía da sala.
Aquela cena divertia os meus amigos, que o viram repetí-la muitas vezes.
Embora eu não estivesse embriagado, bobby notava em mim uma transformação qualquer que, de tão leve, passava despercebida aos outros. Se eu porem o chamasse, ele voltava e punha-se a meu lado, de orelhas e cabeça baixas, como que envergonhado, a esperar pelas ordens que eu lhe desse. Mal eu me descuidava alguns instantes, saia novamente a toda pressa, e só eu de novo o chamasse, voltava por momentos.
Estava bobby a completar oito anos quando, subitamente, enlouqueceu.
Julgou o veterinário que se tratasse de um ataque de meningite. Mas outro veterinário declarou-me que o cão estava hidrófobo, e, sendo assim, era preciso matá-lo.
Durante dois dias e duas noites, fechei-me com ele no escritório. Mesmo durante as mais terríveis crises, mostrava-se, comigo, afetuoso e obediente como sempre. Não sei o que teria feito outras pessoas. Aquelas 48horas foram de fato horríveis. Tentei porem até o fim, com tudo o que estivesse em meu poder, salvar a vida do meu cão e companheiro à força de remédios e carinhos.
Mas nem carinhos nem remédios mo puderam salvar. Bobby, depois de um prolongado espasmo, ficou em pé, caminhou, tremendo, para mim e pôs-se a esfregar a cabeça em minhas mãos. Depois, deitou-se, encostando, como o fazia sempre, a pesada cabeça em minhas botas.
E assim morreu. Misto de cão e ser Humano, é meio difícil esquecê-lo, mesmo agora, tantos anos depois daquele dia.